É com extrema satisfação que realizo a curadoria da exposição Anônimos do Rossio, de Luis Jungmann Girafa, artista plástico, arquiteto, cineasta e fotógrafo, após lançar pelo selo editorial Siglaviva o livro homônimo que deu origem a ela. Conheci Girafa profissionalmente em 2008, quando ele fez a direção de arte de um filme dirigido por mim, no qual imprimiu seu olhar estético apurado e fez os detalhes visuais narrarem, algo primordial no cinema, e obviamente na fotografia também.
Pensamos nesse duplo produto cultural no começo do projeto, que agora, especialmente, se conclui no Museu Nacional dos Correios. Ainda foi prevista, para a abertura da exposição, uma palestra com o angolano Artur Arriscado, que, na condição de exilado, com graves problemas de saúde, viveu como indigente nas ruas e praças de Lisboa. No entanto, por ter nos deixado em setembro passado, não poderemos ouvir o testemunho de seu forçado anonimato. Além disso, Artur estava com Girafa no dia do passeio fotográfico pelo Rossio, em 2011. Nada mais justo, então, que esta exposição seja dedicada a ele, um contador de estórias sem fronteiras, que, de certa forma, inconscientemente, motivou Girafa a produzir seu ensaio.
Anônimos do Rossio é isso mesmo, um ensaio no significado mais estrito do termo, com coerência na linguagem visual e percorrendo por completo as áreas de atividade de Girafa, sendo possível nele enxergar, além do fotógrafo, muitos traços do artista plástico, do arquiteto, do cineasta. E a feliz escolha pelo preto e branco faz com que estas fotografias sobrelevem a questão do anonimato, pela fina sugestão do remoto. Os personagens são capturados pela lente de Girafa como se do quadro fossem parte imutável. Não há pessoa que nelas apareça que não indique uma cumplicidade com o anonimato, fazendo-nos perceber que é assim, anônimos, que passamos todos os dias, ou quase todos, pelas grandes cidades.
Renato Cunha
curador