ORELHA
Após Palindromia e Quem sou?, a Siglaviva apresenta o terceiro volume da coleção Osman Lins, Números e nomes, que traz nove ensaios de estudiosos do autor sobre as narrativas de Nove, novena, um para cada uma delas, e outro de abertura revendo a importância desse livro no contexto de sua obra.
Do mesmo prolífico Pernambuco de Osman, o crítico João Alexandre Barbosa, em introdução à primeira edição de Nove, novena, em 1966, intitulada “Nove, novena novidade”, dirá que, a partir daí, a causa dessa importância, ou dessa novidade — “a elaboração de uma linguagem capaz de fisgar, em diferentes planos, partículas significativas da existência humana” —, cristaliza-se como característica fundamental da literatura osmaniana.
E essa linguagem é também “o júbilo de escrever”, subtítulo de Números e nomes, extraído da narrativa “Um ponto no círculo”, da voz de uma personagem-narradora geométrica, representada por um delta invertido: “Numerosos insetos, aves, peixes, plantas e quadrúpedes, há cinco mil anos, povoavam o Nilo e suas margens. A escrita que os recolheu e os transmudou, prendendo-os em exigentes limites, contrários à sua índole mutável, não pretendia que voassem, ou nadassem, ou cantassem, ou dessem flores na pedra ou nos papiros. Apenas, despojando-os do que era acessório, reduziu-os a luminosas sínteses. Este era seu objetivo. Se conheciam, os egípcios, o júbilo de escrever, é que haviam encontrado — raro evento — o equilíbrio entre a vida e o rigor, entre a desordem e a geometria”.
Eis uma amostra do rico terreno simbólico e filosófico que os pesquisadores de Números e nomes se propuseram a escavar, colaborando para a formação, cada vez mais robusta, de uma espécie de arqueologia dos sentidos da escrita de Osman, trabalho com o qual seus antigos e futuros leitores poderão contar para melhor dialogar com a inventividade inumerável e inominável brotada vitoriosamente das terras de Santo Antão.
Renato Cunha
editor