ORELHA
Voltar a escrever um livro ainda dá, mas uma orelha... Isto é sempre deprimente e terrível. É por aqui que o leitor (esse ser híbrido, bizarro e de outro mundo) começa a julgar-nos... e a amaldiçoar-nos.
O que esse bosta pensa que é? e o que está querendo dizer-nos? Já li as mesmas presunções no seu livro anterior! Nos acha uma cambada de dementes? E se estiver certo?!
Pensa que nos nutrimos apenas de estupidez? Que somos ocos, um poço de aleivosia e que, além de tripas, não levamos mais nada em nosso interior? Que eticamente estamos todos liquidados, sem exceção? Ou pensa que está numa romaria de cegos? E se estiver certo?!
E vejam como sempre quer se disfarçar com os roupões da modéstia! Como finge ser mais humilde do que os cães que estão nas gaiolas dos pets à espera de alguém que os adote... ao mesmo tempo em que escreve como se estivesse açoitando, como se quisesse ser considerado o sol negro dos trópicos! Que ardil canino e de bordel o desse sujeito! e que indignidade para um homem com mais de 40 anos! E dizem que já tem 64!
Desde quando, afinal, se inventou esse costume vulgar de escrever estas ditas orelhas nos livros? São resenhas? iscas? arapucas comerciais, sínteses ou engana-trouxas? Observem como elas levam sempre a assinatura de um sem-vergonha... de um poeta ou de um bacharel em qualquer coisa...
Anões? O que nos deve contar sobre eles neste Inventário de cretinices que cada um de nós já não saiba à exaustão? O prazer de jogar pérolas aos porcos? Claro que, para ele, os porcos somos nós! Sempre nos fala de desgraças! De onde lhe surgem essas macabras inspirações? Será um dos nossos ou um intruso que veio para confundir-nos? Para fazer-nos ferver o sangue? E baixar a crista?
Bem que os livreiros escondem seus livros! E que na sua presença os editores se mostram exaustos... Mas ainda respira. É necessário colocar-lhe um freio nas ventas, pregos novos nas ferraduras... um dedo no nariz...
No passado se apoiou em Samuel Rawet, em João do Rio, em Vargas Vila... agora não para de citar e de mencionar Albino Forjaz de Sampaio e Fialho d’Almeida... O que nos deixa cientes de que não tem amor pela humanidade. De que não ama ao próximo como a si mesmo... e de que muito provavelmente seja ateu. Que destino trágico para a pátria, para a espécie e para a suposta literatura!
[EFB]