ORELHA
A Siglaviva tem a honra de publicar Dyonelio Machado, e mais, um Dyonelio Machado inédito. Proscritos, este livro que o leitor tem em mãos, é o segundo da trilogia Os flagelantes, que conta ainda com os romances Endiabrados, o único até então publicado, em 1980, e Terceira vigília.
Proscritos foi escrito em 1964, ano em que o regime militar se instaurou no Brasil, tendo ficado, portanto, longos 50 anos hermetizado sob a forma de manuscrito. Primeiro, segundo o próprio escritor, num desvão da estante, num lugar escuso até para ele, devido a sua atuação política contra o autoritarismo; depois, após sua morte, em 1985, em seu acervo organizado, que hoje se encontra na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Graças ao trabalho do estudioso Camilo Mattar Raabe, que num trabalho minucioso fixou o texto original, escrevendo ainda um posfácio para esta edição, e da sensibilidade cultural de Amanda e Andrea Soler Machado, respectivamente nora e neta de Dyonelio, é que este livro pôde ser concretizado.
Dyonelio Machado, gaúcho de Quaraí, nascido em 1895, psiquiatra e neurologista de formação, é mais conhecido do público por seu romance Os ratos (1935), considerado uma das grandes obras da literatura universal. No entanto, mesmo assim, Dyonelio viveu praticamente toda a sua vida literária, e política também, como um proscrito, em razão de suas ideias avançadas.
Este livro, então, como diz Camilo em seu posfácio, surge como uma dívida a ser paga a Dyonelio Machado e, sobretudo, à liberdade da literatura, revelando um pouco da realidade que muito o silenciou. A atualidade de Proscritos, como o leitor perceberá, é perturbadora, por sua visão crítica sobre um mundo corrupto e de valores questionáveis.
Renato Cunha